segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A CULTURA DOS MAUS EXEMPLOS

Por: Francisco Ribeiro Mendes - Brasilia - DF

Carta publicada no Jornal do Brasil, no

caderno de Brasília, em 14 de Setembro de 2008,


Desde o começo da nossa civilização, o homem tende a copiar exemplos. O exemplo de solidariedade, que formou a sociedade; o exemplo de amor, que originou a família; o exemplo de trabalho, que criou as profissões; o exemplo de justiça, que aperfeiçoou a conduta e a moral, e o exemplo de direito, que ensinou o homem a respeitar. Mas, por outro lado, os maus exemplos também foram copiados. O exemplo da falta de ética, que criou a política; o da ganância, que gerou a corrupção; o da fraqueza, que cedeu à ignorância, e o exemplo da desordem, que implantou o terror.

O mundo está se desenvolvendo de maneira acelerada e os exemplos, em suas formas antagônicas, se modernizam e se ampliam na mesma proporção. Costumamos dizer que os exemplos mais copiados são aqueles que vêm de cima. Ou seja, aqueles que são deixados pelos nossos pais, nossos professores, pelos nossos patrões ou nossos soberanos. Os exemplos que mais têm prosperado em nosso país, nos nossos dias, são aqueles dados pelos políticos e governantes. Exemplos de falta de segurança, de como livrar parceiros da prisão, de gestos obscenos, de corrupção, com mensalão, caixa 2, compra de votos e dólares na cueca, além do exemplo da omissão. Há exemplos também de atos terroristas, como os dossiês e as escutas telefônicas, exemplos de impunidade e de abuso de poder.

Quando aquele que exerce o poder numa nação declara que defende a prática de um vício, seja lá em qual lugar for, isto é um exemplo de desordem, que alguém pode copiar. Quando uma autoridade manda o povo "relaxar e gozar" em meio a uma crise, isto é um exemplo de desrespeito, que alguém pode imitar. E, assim, inspirados nesses exemplos de desordem e de desrespeito (que vêm de cima), os criminosos assaltam os cidadãos, os traficantes controlam o comércio e as escolas nos grandes centros, os sem-terras invadem propriedades no campo, os sem-teto tomam casas na cidade e até os sem-cova invadem cemitérios e colocam seus mortos nas sepulturas alheias, como acontece em Brasília.

Vivemos um momento onde os poderes estão perdendo a credibilidade pelos maus exemplos que dão e o povo está perdendo o respeito pelo descaramento de seguir esses maus exemplos. E nem é preciso ir muito longe para compreender o que está acontecendo. É só atentar para os pequenos detalhes. Pequenos porque estão em segundo plano na visão crítica do cidadão e no seu direito de se opor, mas de uma importância enorme para se compreender as causas desse descuido social que está lesando os valores e os princípios morais dos cidadãos. Detalhes que mostram a molecagem de pessoas, poderes, mandatários e de governos virarem exemplos. No último final de semana, me pus a pensar em um desses pequenos detalhes. Um detalhe que a maioria das pessoas deste país, condicionada e regulada, não é capaz de notar, mas que, há cinco anos, eu observo. E, bem ali, na Praça dos Três Poderes, enquanto assistia ao desfile do Sete de Setembro, eu me perguntava: Quem poderia imaginar que, um dia, este palanque armado para receber autoridades e pessoas ilustres do meu país seria ocupado por subversivos, ex-presidiários, guerrilheiros, comunistas e até terroristas, todos representando a nossa festa cívica?

Dali, eu via o modelo da cultura dos maus exemplos.

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